Giancarlo Polesello - ortopedista especialista em quadril

Prevenção de fraturas em idosos

A idade da população está aumentando com a evolução da medicina. Com isso, o número de quedas e fraturas nesse grupo de pessoas provoca grande aumento do número de internações hospitalares e o custo médico em geral. Um idoso, por definição da Organização Mundial da saúde (OMS) é a pessoa que atinge 65 anos.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) a expectativa de vida dos brasileiros aumentou mais de 40 anos em 11 décadas, enquanto a taxa de fecundidade caiu de uma media de 6,17 filhos por mulher para 1,57 em pouco mais de 7 décadas, de 1940 até 2014.
Em 1900, a expectativa de vida era de 33,7 anos, dando um salto significativo em pouco mais de 11 décadas, atingindo 75,4 anos em 2014. O envelhecimento populacional passa a ser um problema de saúde pública, já que um idoso acima de 75 anos tem 32% de chance de queda ao solo em 1 ano e 34% dessas quedas provocam algum tipo de fratura. Quase metade desses acidentes acontece no trajeto entre o banheiro e o quarto, principalmente a noite.
Quedas que provocam fraturas instáveis na região do quadril em idosos demandam tratamento cirúrgico. E desses operados, 1/3 ficam curados, 1/3 caminham mal por conta da fratura e 1/3 morrem em 1 ano.
Num estudo de 2016 sobre fatores de risco para mortalidade daqueles internados com fraturas, constatou-se que a maioria das fraturas ocorreu em casa, e que mais da metade simplesmente caiu ao solo. A mortalidade durante a internação foi de 16% e a maioria dos que morreram tinham também traumas na cabeça (77%). Pacientes com anemia e doença crônica do coração associada, no momento da internação hospitalar tiveram mais chance de morrer no hospital. Interessantemente, a demência não foi fator de risco para aumento de mortalidade nesse estudo e os homens morrem mais que as mulheres, talvez pelo fator comportamental que os coloca em maior risco que as mulheres. Nesse estudo, 4% das quedas nos idosos foram associados ao uso de álcool.
Outra preocupação é o uso de psicotrópicos pelos idosos, sejam eles medicamentos antipsicóticos, ansiolíticos, hipnóticos ou antidepressivos. Sabe-se que com a idade o metabolismo dessas medicações pode ser mais lento, que pode tornar o efeito dessas drogas aumentado e mais prolongado. Essas medicações são bem documentadas como causa de queda nos idosos. Os médicos devem ser extremamente cautelosos ao prescreverem medicações psicotrópicas aos idosos e estes, ao ingerí-las.
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Observando o gráfico acima, notamos que entre os Norte-Americanos o número de mortes aumenta exponencialmente a partir dos 70 anos e a principal causa são as quedas.
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Observando esse outro gráfico, as mulheres são as vítimas preferenciais das fraturas, seja na região do quadril ou em outros locais porque vivem mais que os homens e têm mais osteoporose.
Portanto, a consientização e sobretudo a prevenção das quedas neste grupo de idosos é fundamental. A cartilha de prevenção de acidentes em idosos é ferramenta extremamente útil para esse objetivo e por isso a colocamos nessa seção. Algumas medidas, quando tomadas a tempo, podem reduzir drasticamente o risco de acidentes e vão desde a organização da planta da casa até os arranjos dos móveis, utensílios e iluminação da casa. A melhor cartilha encontrada é a que foi publicada pela prefeitura da cidade de São José dos Campos (SP) e da Caderneta da Saúde da pessoa idosa, do Ministério da Saúde. Muito do que se pode ler sobre prevenção foi retirado desta fonte, cuja referência para localização está no final deste texto.
Prevenção:
A conscientização, tanto do idoso como dos familiares sobre os grandes riscos a que uma pessoa está exposta é o principal fator a ser trabalhado. O paciente e os familiares devem saber que uma catástrofe e a perda da vida pode ocorrer por conta de falharmos em medidas simples.
Para isso, mudanças nos hábios de vida se fazem necessárias e dividimos essas mudanças em hábitos pessoais e na residencia do idoso.
1. Hábitos pessoais:
A utilização de dispositivos para auxílio à marcha, como bengalas, andadores e cadeiras de roda. Ter disponível pegadores para evitar abaixar-se ao solo. (Figura 1)

Figura 1

Figura 1


Cuidado com os medicamentos. Muitos medicamentos têm a mesma cor. Podem ser confundidos e ingeridos inadequadamente. Ter recipientes próprios para armazená-los e prepará-los antecipadamente, com uma semana de antecedencia e num recipiente apropriado ajuda muito a evitar enganos. (Figura 2)
Figura 2

Figura 2


Medicações psicotrópicas devem ter cuidado redobrado. Enganos na ingestão ou a ingestão de multiplos medicamentos psicotrópicos deve ser bem avaliada e evitada ao máximo. Consultas frequentes ao médico que os prescreveu é forma de ajustar doses e evitar problemas com seu uso.
Exames laboratoriais frequentes e a visita ao médico podem ajudar a evitar a anemia, assim como orientação da correta alimentação, tão mais importante que medicamentos.
Estar em dia com seu oftalmologista também ajuda a evitar quedas por não enxergar corretamente os obstáculos pelo caminho.
2. Em casa:
Quintal: corrimãos no quintal ajudam a realização de caminhadas evitando isolamento dentro de casa. Evitar desníveis ou escadas. Pode-se adaptar o local com rampas com corrimãos ao invés de degraus. Se houver falta de iluminação, colocar luzes de balizamento ou mesmo pintar faixas ajuda melhor visibilização do ambiente.
Escadas: Corrimãos que cubram toda a extensão da escada ou rampa extendendo-se por 30 centímetros ao final das mesmas para que um deficiente visual, por exemplo, possa ter certeza do final do caminho. Evitar tapetes e carpetes no início ou no fim de um lance de escadas. Piso antiderrapante utilizando material próprio colado ao solo é medida importante a ser tomada. (Figura 3)
Figura 3

Figura 3


Quarto: a correta altura da cama é quando o idoso consegue sentar na beira e toca facilmente os pés no solo. Interruptores de luz ao alcance da mão são muito importantes. Barras de apoio para levantar-se dão mais segurança ao entrar e sair da cama. Armários em altura que facilite seu acesso e janelas leves e simples de abrir. (Figura 4)
Figura 4

Figura 4


Lavanderia: Armários de fácil acesso e organizados. Eletrodomésticos em altura que permita seu manuseio. O varal de teto deve permitir o manuseio individual. Os que descem em conjunto podem ser pesados e perigosos. Tábuas de passar roupa em altura regulável, onde o braço do usuário fique em 90 graus de flexão dão mais estabilidade e evitam acidentes. (Figura 5)
Figura 5

Figura 5


Cozinha: Torneiras com alavanca facilitam seu manuseio e bancada do fogão com altura de 80cm facilitam as atividades culinárias. Utensílios mais usados em armários de fácil acesso. Pratos de plástico e copos inquebráveis. Panelas com alças nas duas laterais ajudam a dividir o peso. Não se deve subir em bancos para pegar coisas fora do alcance. Verificar constantemente os bicos de gás é medida importantíssima. O uso de facas deve ser o mínimo possível. (Figura 6)
Figura 6

Figura 6


Banheiro: trancas que abrem por dentro e por for a ajudam se o idoso passar mal e cair. Vaso sanitário em altura elevada facilita levantar-se. Isso consegue-se com elevador de vaso sanitário ou com base elevada de alvenaria. Barras de apoio laterais devem ser instaladas. Piso antiderrapante e fosco diminui o risco de queda. No box, porta de corer sem degrau ou obstáculo aos pés, adesivos antiderrapantes no seu interior, barras de apoio, banco ou cadeiras especiais de banho. (Figura 7)
Figura 7

Figura 7


Sala: Ajustar a altura de poltronas e sofas, pois é difícil levantar-se de poltronas baixas. Potronas individuais com apoio lateral devem ser preferidas, que facilita o ato de levantar-se. Evite tapetes e carpetes e se os têm, verificar se estão soltos. Antiderrapante ou tapete com forro antiderrapante podem ajudar a evitar quedas. Móveis em excess devem ser removidos para que a circulação seja a mais livre possível, sem obstáculos. Estantes e prateleiras devem estar fixas na parede ou no piso. (Figura 8)
Figura 8

Figura 8


 
Medidas gerais:

  • O maior cuidado com tapetes soltos deve ser prioritário
  • Em uma casa de dois pisos, pode-se mudar o quarto do idoso para o andar de baixo, diminuindo assim subidas e descidas
  • Produtos de limpeza que deixem o piso escorregadio devem ser evitados, assim como cera ou deixar o piso molhado
  • Corrimãos por toda a casa dão independência e segurança a um idoso
  • Iluminação é importante em todos os cômodos da casa. Interruptores devem ser fáceis de ser acionados
  • Maçanetas do tipo alavanca são melhores que as do tipo bola
  • Evitar andar somente de meias ou com sapatos mal ajustados
  • Evitar soleiras das portas não nivelados com o chão
  • Evitar fios elétricos ou de telefone no chão
  • Enxugar imediatamente água derramada ou usar o rodo

Bibliografia:
1. Risk factors associated with in-hospital mortality in elderly patients admitted to a regional trauma center after sustaining a fall. Aging Clin Exp Res,
2. Caderno de Atenção Básica “Envelhecimento e
Saúde da Pessoa Idosa”. Brasília-DF, 2006.
Revista “O Médico & Você”.
Associação Médica Brasileira. Brasil, 2009, Ano2, no2. Editores do Consumer Guide. “HowStuffWorks
Dicas de prevenção de acidentes”.
(atualizado em 26 de junho de 2007) http://casa.hsw.uol.com.br/dicas-para-prevenir-acidentes.htm (15 de maio de 2008) www.min-saude.pt/portal/conteudos/enciclopedia+da+saude/idosos/ preveniracidentesidosos.htm http://salteadoresdaarca.wordpress.com/2008/03/04/ se-tem-idosos-em-casa-leia-com-atencao/ Realização:
Prefeitura Municipal de São José dos Campos Secretaria Municipal de Saúde Programa de Saúde Adulto/Idoso Programa de Reabilitação.
3. K. Johnell et al. Psychotropic drugs and the risk of fall injuries, hospitalisations and mortality among older adults. Int J Geriatr Psychiatry 2016

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