Giancarlo Polesello - ortopedista especialista em quadril

Lesões do quadril no tênis

Giancarlo Polesello
Maria Cristina A. Arruda Neves, Fisioterapeuta

Dos esportes praticados com raquete, o tênis é o mais difundido no mundo todo. E também o mais popular, principalmente porque pode ser praticado tanto por atletas de alto nível, quanto por jogadores amadores de todas as idades.

O tênis ganhou popularidade no Brasil, com o tenista brasileiro Gustavo Kuerten, que venceu o torneio de Roland Garros em 2000 e 2001. Com a conquista desse torneio de grande importância no mundo esportivo, passou a ser um fator de estímulo e começou a contar com a participação de crianças, jovens e adultos, com objetivos diferentes, desde a melhora na qualidade de vida e na prática de atividade física.

Como a maioria dos esportes com raquete, o tênis requer coordenação motora, agilidade, potência muscular, força e condicionamento físico. Todos esses movimentos que o esporte exige, que se tornam repetitivos com a prática contribuem para o aparecimento de lesões, não só nos atletas de alto nível, como também nos atletas amadores, recreativos.

Aumento do número de jogos em consequência do elevado número de torneios disputados durante o ano e treinos intensivos também têm contribuído para o aparecimento de lesões. As mais frequentes: cotovelo, ombro, joelho, perna, coxa, punho, coluna e quadril, a maioria derivada de microtraumatismo repetitivo.

O tênis é um dos esportes que mais variáveis apresenta. O nível competitivo em que o atleta se encontra, o tipo de raquete, o encordoamento utilizado, tipo de piso, a experiência, as exigências técnicas do treinador/técnico, alem das habilidades de cada jogador, as características físicas e até a personalidade do atleta.

A somatória dessas variáveis pode definir tanto o desempenho do atleta como também o aparecimento de uma lesão.

Os tenistas o tempo todo estão se movimentando em quadra, durante os treinos, jogos, acelerando e desacelerando, obrigados a mudanças bruscas de direção para alcançar e rebater uma bola. Durante essas mudanças bruscas precisam associar velocidade, agilidade, potência e intenso condicionamento físico. Atletas competitivos estão sujeitos aos mais diversos tipos de estresse de ordem biomecânica e fisiológica.

O aparecimento de lesão pode estar relacionado ao baixo nível de condicionamento físico, principalmente dos atletas jovens e amadores. Para tenistas não competitivos, treinamento físico inadequado e técnicas impróprias podem ser a causa de lesões. Estudos mostram a necessidade de boa orientação técnica, conhecimento da biomecânica do movimento assim como boa reabilitação.
Outros fatores que levam a lesão os chamados de fatores intrínsecos: Primário, quando não se consegue identificar a causa da lesão; Secundário quando existe alguma alteração congênita adquirida, que favoreça o aparecimento da lesão. E fatores extrínsecos: Ligados ao treinamento em si e ao meio ambiente como causa de lesão.

LESÕES NO QUADRIL

Como elas acontecem jogando tênis?

Durante o jogo, as necessidades bruscas de rotação do tronco apoiado nas pernas, para a execução do movimento do saque, forehand (golpe de direita), backhand (golpe de esquerda), levam as lesões de cartilagem (labrum). A lesao labral geralmente ocorre quando envolve movimentos bruscos de direção e rotação vigorosa do quadril.
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Movimentos repetitivos como os do saque podem levar a forças de cisalhamento na articulação sacro-ilíaca, o mecanismo mais provável é a execução repetida de saltos e movimentos bruscos.
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O posicionamento dos pés muito próximos na fase inicial do saque prejudica o movimento de balanço e a impulsão vertical na hora do saque. Gerando mecanismo de lesão, com instabilidade na rotação do quadril no momento de gerar a potencia do golpe.
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costas

Pela própria dinâmica do esporte , a musculatura do tenista tende a ser assimétrica (um lado mais forte que o outro), levando a desvios de postura.

Quais são as mais comuns no quadril?

As lesões do quadril correspondem de 1 a 27% de todas as lesões em tenistas. Mas implicam em grande impacto na carreira ou mesmo na pratica esportiva de tenistas recreativos. A lesão exige uma reabilitação intensiva e o atleta se afasta das quadras até sua recuperação total.
Há dois grupos de lesões esportivas:

  • Traumatismo agudo: as traumáticas são por contato violento do material, que é usado para a pratica do esporte, uma, queda ou acidente.
  • As de sobrecarga ou excesso de uso: são adquiridas pelo funcionamento excessivo do músculo, tendões e articulações. Nas lesões de sobrecarga o aparelho locomotor sofre ações não necessariamente violentas, por pressão e tração repetidas, em forma de microtraumatismos e com efeitos cumulativos e podem desencadear estiramento muscular, luxação, tendinite e lesões na coluna.
Síndrome do Impacto Femoroacetabular

Definido como contato anormal entre acetábulo e o colo femoral, durante a mobilização do quadril, principalmente na flexão e rotação interna, limitando a amplitude de movimento. O Impacto pode gerar o desenvolvimento de lesões labiais e artrose precoce, lesão condral e degeneração articular.
Deformidades tipo came no (fêmur) e pincer (no acetábulo) ou misto. Sintomas são comumente dor na virilha, no tendão dos adutores da coxa, no abdome, dor na articulação, limitação para flexão, limitação para cruzar as pernas, reduz a mobilidade do quadril. Normalmente na pratica clinica o paciente para mostrar o local da dor, coloca a Mao na lateral do quadril fazendo um sinal de C.

Lesão do Labrum Acetabular

Pode ser causada por trauma, ou pela própria Lesão do Impacto Femoroacetabular, aponta o sinal do C para a dor, dor inguinal, a posição sentada é dolorosa.

Lesao Condral

Associada as lesões já pré existentes como Impacto femoro acetabular, lesão de lábio.

Síndrome do Ressalto

O paciente pode sentir um estalo, e as vezes um ponto doloroso em cima do osso na lateral da coxa (fêmur).

Pubalgia

No futebol a maior parte das vezes causados pelos movimentos do chute repetitivos e mudanças bruscas de direção. No tênis, basicamente pelas mudanças bruscas de direção. Queixa insidiosa, no atleta está relacionada a alterações da sínfise púbica ou tecidos adjacentes.

FATORES QUE PODEM SER DETERMINANTES PARA O SURGIMENTO DE LESOES NO TÊNIS

O Tênis requer:

  • orientação técnica;
  • coordenação motora;
  • agilidade;
  • alto grau de reflexo;
  • habilidade;
  • potência muscular;
  • força;
  • condicionamento e treinamento físico adequado;
  • e conhecimentos básicos da biomecânica do tênis e
    conhecimento do material esportivo: tipo de Raquete (peso e empuhadura corretos), encordoamento (tipo de corda e pressão adequada), e bolas.
  • um par de tênis especial para o esporte.

empunhaduras
A ausência das habilidades e requisitos acima, somados a treinos excessivos, alto volume de jogos, biomecânica falha, e desequilíbrios musculares, levam ao baixo desempenho e ao aparecimento das lesões.

COMO PREVINIR LESÕES DO QUADRIL NO TÊNIS

Conhecimento da Biomecânica do Tênis: Todo bom jogador tem que ter introduzido em seu repertório de golpes, toda a complexidade das técnicas do tênis.
Para se chegar a uma técnica perfeita, é necessário conhecimento e a prática intensa de movimentos biomecânicos adequados, movimentos mais eficazes e menos traumáticos para o corpo humano.
A biomecânica oferece regras bastante claras sobre os aspectos que temos que nos concentrar na aprendizagem e treinamento da técnica, e é isso que jogadores de elite fazem continuamente, pois caso contrário, não permaneceriam no grupo de elite.
Aspectos mentais e táticos: confiança, tranquilidade motivação etc.
Estado atlético do competidor: muito importante estar fisicamente preparado. Qualquer falha pode desequilibrar um confronto, principalmente no esporte amador, mas também entre profissionais, devido à maratona de jogos a que são submetidos, levando a fadiga e lesões.

ALGUMAS DICAS DE PREVENÇÃO

Seja nos casos de predisposição anatômica ou em sobrecarga pela pratica do esporte, podemos diminuir essas sobrecargas e também diminuir o risco de uma lesão maior, fortalecendo os músculos do quadril e com exercícios de treinamento sensório motor (equilíbrio):
Treino sensório motor (equilíbrio)

  1. Em um step ou degrau, com a perna que está no apoio, flexione o joelho e quadril até 90 Graus, a outra perna elevada como se fosse descer. Manter alguns segundos. Fazer 10 repetições em cada perna. Importante observar a perna de apoio, que no momento de flexão do joelho, este não incline para medial (para dentro), caso ocorra, estabilizar o joelho com auxílio de uma faixa (thera-band) elástica, tracionando para fora.
  2. Uma perna apoiada no chão com joelhos semi-fletidos, estenda o braço e a perna oposta simultâneamente. Mantenha por 30 segundos. Repetir 10 vezes alternando os lados.treino-equilibrio-1
  3. Treino de equilíbrio em BOSU unipodal ( com um só pé apoiado no bosu) e bipodal ( com os dois pés apoiados no bosu. Manter de 30 segundos na posição. Repetir 10 vezes.treino-equilibrio-2

Treino de fortalecimento e estabilização do Core

A musculatura do core, tem como função suportar o complexo lombo-pelvico-quadril, para que possa estabilizar a coluna vertebral e pelve durante os movimentos funcionais. O core é formado pelos músculos: bíceps femoral, transverso abdominal, multífidios, adutor, eretor da espinha, oblíquo interno e externo, íliopsoas, glúteo máximo e reto abdominal.
prancha-lateral-ventral
ponte

Treino de equilíbrio com o gesto esportivo

treino-equilibrio-3

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