O objetivo de fazer-se um capítulo sobre farmacologia surgiu depois que muitos pacientes na prática clínica, que fazem uso crônico de medicamentos ditos “anti-artrósicos” e muitos remédios “anti-inflamatórios”, questionavam o mecanismo de ação destes.
Este questionamento demandou estudo aprofundado a respeito de todos os medicamentos prescritos na prática ortopédica diária, além de grandes esclarecimentos quanto aos mecanismos de ação de tais drogas assim como seus efeitos colaterais.
O resumo disso está sendo escrito de forma que um leigo em farmacologia possa conhecer melhor sobre as medicações que ingere com freqüência.
1. Suplementos, vitaminas e minerais
Aqui, procurei resumir os mais comuns suplementos utilizados para controle da dor e da artrose. Alguns dos sufixos você poderá ver nas caixas das medicações que utiliza como suplemento.
1A) ASU: Avocado Soybean Unsaponifiables. Sua origem é do extrato feito óleo do abacate e da soja, que acredita-se frear a progressão da artrose por diminuir em cerca de 50% a atividade da colagenase, enzima degradativa da cartilagem. Além disso, o produto interfere no efeito deletério da interleucina- 1 nos condrócitos. A interleucina-1 exerce um importante papel na destruição da cartilagem articular.
1B) Unha de gato (Uncaria tomentosa): raiz ressecada de uma planta que cresce na floresta amazônica do Peru e outros países amazônicos. Cuidado ao utilizar esse produto, pois muitas vezes outro produto, de nome acácia greggi também é vendido como sendo unha de gato, porém é altamente tóxico. Acredita-se ter propriedades anti-inflamatórias e estimuladoras do sistema imunológico. Pode causar dor de cabeça, náuseas e vômitos, causar hipotensão e deve ser evitado em pacientes que tomam medicações para pressão arterial ou anti-coagulantes.
1C) Sulfato de condroitina: É um componente do tecido conjuntivo humano encontrado na cartilagem e nos ossos. Como suplementos, o sulfato de condroitina geralmetne provem da traqueia dos bovinos ou dos subprodutos do porco. Sua dose varia entre 800 a 1200 mg. Ao dia em duas ou 4 tomadas, geralmente combinada com Glucosamina. O efeito inicia no mínimo com um mês de uso. Alguns cuidados devem ser tomados: algumas formulações são feitas com alta concentração de manganês, que pode ser um problema com longo tempo de uso. Como a condroitina é feita com produtos bovinos, existe a possibilidade, ainda que remota, da doença da vaca louca. Ainda, a condroitina associada a drogas anticoagulantes ou anti-inflamatórias pode aumentar o risco de sangramento. Em pacientes alérgicos a sulfonamidas deve-se iniciar com baixa dose para verificar possíveis efeitos colaterais. Outros efeitos colaterais indesejáveis são diarréia, constipação e dor abdominal.
1D) Glucosamina: é o maior componente da cartilagem. Seus suplementos são derivados das carapaças de crustáceos como camarão, lagosta e caranguejo. Pode ser formulado como cápsulas, tabletes, líquido ou em pó. A dose mínima deve ser de 1500mg. por dia em todas as formas de apresentação. Seu efeito pode aparecer somente depois de 1 mês de uso ininterrupto. Em relação a estudos sobre a Glucosamina, concluiu-se que pode ser benéfica (National Institute of Health). Esse estudo envolveu 1583 pacientes com artrose do joelho, demonstrando que esse suplemento é mais efetivo quando combinado com a Condroitina, porém não foi significantemente melhor que o placebo ou um anti-inflamatório como o Celecoxib em pessoas com dor considerada de leve intensidade. Contudo, um subgrupo nesse estudo com dor classificada como moderada a grave demonstrou significativa melhora, mais ainda que com o uso de anti-inflamatório. Uma revisão sistemática de 2005 avaliou os resultados de 20 estudos que envolviam 2570 pacientes. A conclusão foi de que a Glucosamina é segura, mas não superior ao placebo na redução da dor e rigidez na melhora da função de uma articulação com artrose.
1E) Óleo de peixe: com origem de peixes de água fria, como o salmão, o óleo de peixe é bastante utilizado. Acredita-se reduzir a rigidez matinal nas artroses e na artrite reumatóide. Estudos em pessoas com artrite reumatóide demonstram que o Omega-3 diminuiu o edema articular, mas não o desgaste da cartilagem. Em outros estudos em pacientes com artrite reumatóide, seu uso propiciou a diminuição da utilização de medicações anti-inflamatórias ou corticóides. Um estudo de 2005 demonstrou melhores efeitos qundo existia combinação dos suplementos de Omega-3 com óleo de oliva.
2. Uso do Ácido Hialurônico na Artrose do Quadril:
O ácido hialurônico (AH) é uma substância naturalmente presente no corpo humano, especialmente no líquido sinovial das articulações, onde atua como lubrificante e amortecedor. Na artrose, que é uma condição degenerativa das articulações caracterizada pela degradação ou perda da cartilagem, o uso do ácido hialurônico pode ser benéfico em casos selecionados, como parte do tratamento.
Pode ser obtido a partir de várias fontes e os métodos de produção têm evoluído ao longo do tempo para atender às necessidades médicas e cosméticas. As principais fontes e métodos de produção do ácido hialurônico são:
Fontes Naturais:
– Tecidos Animais: Originalmente, o ácido hialurônico era extraído de tecidos animais, como crista do galo e cordões umbilicais bovinos. Essas fontes são ricas em ácido hialurônico, mas o processo de extração é relativamente caro e pode apresentar riscos de contaminação com proteínas ou patógenos animais.
Produção Biotecnológica:
– Fermentação Bacteriana: Atualmente, a maior parte do ácido hialurônico usado na medicina, cosmética e indústria farmacêutica é produzida por fermentação bacteriana. Nesse processo, bactérias, especialmente as do gênero Streptococcus (como Streptococcus zooepidemicus), são geneticamente modificadas para produzir ácido hialurônico em grandes quantidades. Este método é considerado mais seguro, pois minimiza o risco de contaminação com proteínas animais e permite maior controle sobre a pureza do produto final.
Modificação Química:
o Após a produção, o ácido hialurônico pode ser quimicamente modificado para criar diferentes formas (como ácido hialurônico de alto ou baixo peso molecular) que têm diferentes propriedades e são usados para diferentes aplicações, como injeções intra-articulares, preenchimentos dérmicos, ou produtos para cuidados com a pele.
– Alto peso molecular: Devido ao seu tamanho maior, tem maior capacidade de retenção de água e proporciona maior viscosidade, o que é útil para lubrificação e amortecimento em aplicações intra-articulares.
– Baixo peso molecular: Menor viscosidade e capacidade de penetração mais profunda na pele, tornando-o adequado para aplicações tópicas que visam hidratação profunda.
Uso:
Infiltrações Intra-Articulares: O ácido hialurônico pode ser administrado diretamente na articulação do quadril por meio de injeções intra-articulares. Esse procedimento é geralmente realizado por um especialista, que guia a injeção por imagem, geralmente de ultrassonografia, para garantir a correta colocação da substância na articulação.
Mecanismo de Ação: O ácido hialurônico ajuda a melhorar a viscosidade e a elasticidade do líquido sinovial, o que pode proporcionar alívio da dor, melhorar a mobilidade articular e potencialmente retardar a progressão da doença. Ele também pode atuar como um agente anti-inflamatório, reduzindo a inflamação articular.
Indicações: É indicado principalmente para pacientes que apresentam sintomas leves a moderados de artrose no quadril e que não respondem bem a outras formas de tratamento conservador, como o uso de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) e fisioterapia. Pode ser uma alternativa ou um complemento ao tratamento antes de se considerar uma cirurgia. Entretanto deve-se considerar que o acido hialurônico é um componente natural do liquido sinovial, que lubrifica a superfície articular e nutre as células de cartilagem. Na artrose grave, como não há mais cartilagem, é fácil de se supor que sua eficácia seja bastante limitada.
Eficácia: A eficácia do ácido hialurônico na artrose do quadril pode variar entre os pacientes. Alguns estudos mostram que ele pode proporcionar alívio da dor e melhorar a função por algum período de tempo. No entanto, a resposta ao tratamento é individual e nem todos os pacientes experimentam benefícios significantes.
Segurança: Em geral, o uso de ácido hialurônico é considerado seguro, com poucos efeitos colaterais, que podem incluir dor temporária no local da injeção, inchaço e rigidez. Raramente, pode ocorrer uma reação inflamatória maior por conta do extravasamento do liquido para fora da articulação.
Considerações: O custo das injeções de ácido hialurônico é elevado e nem sempre é coberto por planos de saúde. Além disso, a decisão de utilizar esse tratamento deve ser feita em conjunto com um profissional de saúde, levando em consideração os benefícios potenciais, os riscos e as alternativas disponíveis.